16 mar 2025, dom

Morre Renina Katz, gravurista brasileira, aos 99 anos – 21/01/2025 – Ilustrada


A artista Renina Katz Pedreira, pintora e ilustradora que variou entre o realismo social e a abstração durante a sua trajetória artística, morreu nesta terça-feira, aos 99 anos, em São Paulo. Ela ficou particularmente conhecida por suas gravuras, pelas quais pôde incorporar uma série de aspectos líricos ao seu trabalho. A informação foi confirmada por uma pessoa próxima à família.

Nascida em 1925, Katz começou a desenvolver suas primeiras obras na década de 1940, quando se dedicou especialmente a pintar retratos e paisagens do Rio de Janeiro. Nessa época, suas pinturas traziam diversos elementos do expressionismo, importante movimento artístico.

Ela iniciou os seus estudos de xilogravura e cursou a Escola Nacional de Belas Artes entre 1947 e 1950. Incentivada pelo artista Napoleon Potyguara Lazzarotto, conhecido como Poty, ela decidiu ingressar no curso de gravura em metal lecionado por Carlos Oswald e oferecido no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

A partir dos anos 1950, seus trabalhos passaram a adquirir um caráter social, e a artista começou a priorizar figuras marginalizadas como o centro de suas obras. Trabalhadores urbanos e representantes de classes sociais mais baixas ganharam as telas de Katz e renderam grandes séries de gravuras, como as dedicadas à questão dos retirantes e outras reunidas no álbum “Favelas”, lançado em 1956.

Nesse primeiro momento, suas obras assumiram uma frontalidade maior, realistas e diretas na construção de suas mensagens, também trabalhadas com cuidado técnico. O contraste acabou se tornando um dos aspectos mais reconhecidos de suas realizações, conferindo peso e dramaticidade a cenas que dissecavam diversas mazelas sociais.

Na metade dos anos 1950, seu estilo passa a incorporar uma maior abstração, se desviando do realismo social para abranger obras mais figurativas. Ela preservou a sua relação com as paisagens, mas concentrou a sua construção a partir de sugestões. Os desenhos ganharam transparência em suas composições, em diálogo com diferentes aspectos da memória humana.

Nos anos 1970, Katz iniciou a sua produção de litogravuras, ampliando sua inscrição para bases constituídas por pedra. Essa diversidade permitiu que a artista trabalhasse novas variedades tonais, e a cor foi evoluindo em seus trabalhos como consequência do uso de outras matrizes.

Em entrevista, ela recusou a ideia de já ter integrado uma “fase abstrata” e disse que suas paisagens dependem da interpretação daqueles que as veem. Dona de uma liberdade crescente conforme a progressão de seu trabalho, ela também afirmou que suas obras de eixos mais figurativos nunca ambicionaram a ilustração de ideias.

“Queria o impacto da liberdade e da ausência dela”, disse Katz, ao falar da série “Carcéres”, em que explora tons de vermelho e preto para compor grades geométricas.

A artista também deixa um vasto legado como professora. Ao se mudar para São Paulo, em 1951, ela deu aulas de gravura no Masp e na Fundação Armando Álvares Penteado, a Faap, até a década de 1960. Pouco após a publicação de “Favelas”, ela se tornou docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde deu aulas por quase três décadas.



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